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Por que que um parque é mais importante que uma mesa para aprender a ler e escrever?

Atualizado: 7 de mar. de 2020

Autor: Inês Guedes - Terapeuta Ocupacional



Muitas pessoas se perguntam “Como pode o brincar no parque ajudar o meu filho a ler e escrever, mais do que ficar em casa a fazer grafismos?” ou “O que pode o movimento fazer para ajudar o meu filho a escrever ou prestar atenção ao que diz o professor?”. A verdade é que nenhuma criança pode aprender a ler e escrever sem que esteja preparada em termos de desenvolvimento. Muito frequentemente nos dias de hoje tendemos a puxar as crianças a progredirem para níveis para os quais muitas vezes não estão preparadas!


Frequentemente ainda no pré-escolar já estamos a pedir às crianças competências de escrita. Já não sei quantas vezes ouvi os pais e educadores queixarem-se porque a criança não sabe escrever o nome ou copiar a data, quando o principal foco nestas idades deve ser o preparar os alicerces que efetivamente sustentam as competências futuras de leitura, escrita e cálculo. A maior parte das vezes, o que é verdadeiramente difícil de entender até porque não é facilmente observável, é que o cérebro da criança tem falta de experiências sensoriais e por isso falha na integração sensorial, não estando assim preparada para este tipo de aprendizagens mais complexas. E quando falamos em experiências sensoriais, referimo-nos a correr, saltar, trepar, fazer castelos na terra e na areia, andar descalça na relva, criar histórias com simples caixas de cartão!


De um modo geral todas as crianças têm a capacidade de aprender. Mas, antes que possamos ajudar a criança a aprender, temos de ir primeiramente à raiz do problema. Porque não consegue a criança ler? Porque escreve as letras e os números em espelho? Porque lhe dou eu instruções e um minuto depois ela esquece tudo o que lhe disse para fazer? Porque não consegue estar sentada quieta na cadeira? Para perceber porque a criança não consegue fazer estas coisas, devemos perguntar-nos o que está verdadeiramente a impedir a criança de aprender: é porque não consegue prestar atenção e focar-se na sala de aula? São os olhos que piscam ou tremem demasiado quando tenta ler as frases ao longo da página? Ela fica demasiado incomodada com os barulhos, a roupa que usa, as luzes ou cheiros fortes? Ela não tem músculos fortes o suficiente que lhe permitam manter a posição na cadeira? Ela tem boa coordenação motora e as suas mãos e dedos são suficientemente fortes para escrever? Acredite ou não mas muitos destes sinais e sintomas estão relacionados com os sentidos da criança, ou melhor, com a forma como o seu cérebro processa a informação dos diferentes sentidos, os quais devem ser devidamente avaliados antes de responder à questão de porque não consegue ela aprender. Assim, antes de “tratarmos” esta parte dos fatores sensório-motores subjacentes, que podem incluir a capacidade de se regular e organizar perante as luzes, os barulhos de fundo, o próprio toque dos colegas ou mesmo da roupa e do cabelo na cara, a capacidade dos seus músculos permitirem que se mantenha sentada na cadeira, que use as duas mãos em simultâneo de forma coordenada, que faça uma preensão adequada do lápis, que os seus olhos se movam de forma a não saltar linhas, palavras ou letras, a criança não pode ou é muito provável que não consiga aprender.


Crianças que em idades precoces têm acesso a uma diversidade e variedade de experiências de brincar e de movimento começam a sua carreira acadêmica em vantagem. Esta altura é um período não só ótimo mas também crítico para as crianças aprenderem e se desenvolverem através do brincar. As outras por sua vez têm mais probabilidade de serem desajeitadas, de terem dificuldade em controlar as suas emoções, de resolver problemas, ou de ter dificuldades na interação social ou nas aprendizagens acadêmicas. Quando avaliamos estas crianças apercebemo-nos que a capacidade de integração sensorial não está a ser eficaz pois não está suficientemente desenvolvida para suportar o desenvolvimento da aprendizagem.


A integração sensorial é pois a forma como o sistema nervoso recebe as mensagens dos sentidos e as transforma em respostas motoras e comportamentais adequadas. Nas crianças com problemas sensoriais, as informações sensoriais ou não são detetadas ou não se organizam em respostas apropriadas. O cérebro localiza, classifica e organiza as sensações, mais ou menos como um sinaleiro dirige o trânsito. Quando as sensações fluem de uma forma organizada o cérebro pode usar as mesmas para formar percepções, comportamento e aprendizagem. Ler, escrever e fazer contas são processos extremamente complexos que apenas se podem desenvolver sobre alicerces de integração sensorial bem desenvolvidos. Quando o fluxo de sensações é desorganizado, a vida pode ser como o trânsito em hora de ponta. Por isso lembre-se que pobre processamento sensorial pode ser o problema subjacente às dificuldades de aprendizagem!


Autor: Inês Guedes - Terapeuta Ocupacional

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